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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Material de Estudos 2° ano "O Indivíduo e a psicanálise"

O indivíduo e a psicanálise – Sigmund Freud

            Analisando pessoas com uma doença chamada histeria, cujos sintomas se confundem com uma espécie de “possessão demoníaca” (falta de visão, desmaios, paralisia, pânico e ansiedade sem causa física aparente), Freud descobriu que ela se tratava de uma doença causada pela autorrepressão.
            Autorrepressão dos impulsos considerados dolorosos, terríveis ou vergonhosos para aquele indivíduo. Freud concluiu que essa repressão que as pessoas faziam contra seus próprios impulsos era a causa da histeria. Esses impulsos ficariam fechados, isolados no que Freud chamou de inconsciente.
            O inconsciente está por trás de grande parte de nossas fantasias. Ele gera nossas lembranças e permite que nossa consciência tenha acesso a informações importantes, como a memória de nomes, datas, lugares, sensações. No entanto, o inconsciente é responsável, também, por esquecimentos, lapsos, distrações, confusão de idéias, atitudes desastrosas e associação de ideias diferentes.
            A cultura ocidental ignorou o inconsciente e supervalorizou a consciência. Entretanto, o inconsciente está sempre em atividade no dia-a-dia, criando, por exemplo, os sonhos. Por isso, ao interpretar o sonho, seria possível chegar a alguns conteúdos do inconsciente, conhecendo um pouco aquilo que reprimimos.
(adaptado do Caderno do Professor – Filosofia 2° Ano).

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

3 conceitos de liberdade - Marilena Chauí - material de estudo 3° anos noturno

Três Conceitos de Liberdade
 Marilena Chauí

            A primeira grande teoria filosófica da liberdade é exposta por Aristóteles em sua obra Ética a Nicômaco e, com variantes, permanece através dos séculos, chegando até o séc. XX, quando foi retomada por Sartre. Nessa concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado externamente (necessidade) e ao que acontece sem escolha deliberada (contingência). Diz Aristóteles que é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não agir. É a ausência de constrangimentos externos e internos. Assim, na concepção aristotélica a liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato voluntário. A inteligência inclina a vontade numa certa direção, mas não a obriga nem a constrange. A liberdade será ética quando o exercício da vontade estiver em harmonia com a direção apontada pela razão. Sartre levou essa concepção ao ponto-limite. Para ele, a liberdade é a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu mundo, por isso afirma que estamos condenados à liberdade. Somos agentes livres tanto para ter quando para perder a felicidade.
            A segunda concepção da liberdade foi desenvolvida pelo estoicismo (séc. IV a.C), ressurgindo no séc. XVII com o filósofo Espinosa e, no séc. XIX, com Hegel e Marx. Eles conservam a idéia aristotélica de que a liberdade é a autodeterminação ou ser causa de si. No entanto, diferentemente de Aristóteles e Sartre, não colocam a liberdade no ato de escolha realizado pela vontade individual, mas na atividade do todo, do qual os indivíduos são partes. O todo ou a totalidade por ser a Natureza (como para os estóicos e Espinosa), ou a cultura (como para Hegel), ou, enfim, uma formação histórico-social (como para Marx). A liberdade não é um poder individual, mas é o poder do todo para agir em conformidade consigo mesmo. As leis da Natureza, a cultura, ou a história, são as maneiras pelas quais a liberdade do todo se manifesta.
            Além da concepção do tipo aristotélico-sartreano e da concepção de tipo estóico-hegeliano, existe ainda uma terceira concepção que procura unir elementos das duas anteriores. Afirma, como a segunda, que não somos um poder incondicional de escolha de quaisquer possíveis, mas que nossas escolhas são condicionadas pelas circunstâncias da realidade histórica em que estamos situados. Não se trata da liberdade de querer alguma coisa e sim fazer alguma coisa, distinção feita por Hobbes, no séc. XVII e retomada por Voltaire no séc. XVIII, ao dizerem que somos livres para fazer alguma coisa quando temos o poder de fazê-la. Essa terceira concepção da liberdade introduz a noção de possibilidade objetiva. A liberdade é a capacidade para perceber as possibilidades e o poder para realizar aquelas ações que mudam o curso das coisas, dando-lhe outra direção ou outro sentido.

Texto "A filosofia é inútil?" - material de estudos 3° ano noturno

A Filosofia é Inútil?

Regis de Morais[*]

Será, a filosofia, coisa de quem vive nas nuvens? Será coisa de “desligados”? Os italianos dizem que “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”. Isto é: a filosofia é uma loucura elegante, algo completamente sem utilidade. Mas... por que tanto interesse em se falar mal de uma coisa supostamente insignificante? O que está por trás dessas ironias?
Vamos, devagar, aproximar-nos do que está por trás das críticas que fazem à filosofia. Na verdade, a sociedade industrialista e de consumo tem medo da filosofia. Aliás, todos os movimentos de massificação social têm medo da filosofia, pois, aquele que se aproxima do estudo filosófico, de uma forma ou de outra desenvolve seu senso crítico. Ora, no nosso mundo, em que a tônica dos meios de comunicação e de muitos governos é fazer a cabeça, quem pensa incomoda, quem sabe criticar idéias e situações não se deixa levar, não se deixa manipular.
Esta é a razão pela qual todas as ditaduras do mundo, quando se instalam no poder, saem a campo para caçar, prender e exilar os filósofos; eles são caçados e depois cassados. Eis também a razão pela qual os meios de comunicação ou fazem uma caricatura do filósofo ou se calam ostensivamente a seu respeito. Sempre foi muito bom para a filosofia ser marginalizada pelos ditadores políticos e pelos tiranos da economia, pois, só assim ela quase nunca se assentou nos banquetes dos poderosos (como tão frequentemente têm feito as ciências), e pôde fortalecer sua face nos calabouços da sociedade.
Ninguém pode ficar indiferente ante a filosofia. Afinal, se nascemos seres pensantes é natural que procuremos pensar. Marginalizar a filosofia é uma forma de valorizá-la. Vai-se sempre amar ou odiar a filosofia – nunca dará para ficar-se indiferente. No dia em que o ser pensante desistir de pensar, tudo estará acabado e o mundo se encherá de figuras idiotizadas passando pela vida como quem passa por um delírio. Uma coisa é certa: nós nascemos para levar a vida, não para sermos levados por ela feito folha seca que cai num riacho e perde o governo de si mesma.
Acontece que, quando a mentalidade consumista nos invade e nos domina, ela o faz de um modo tão esperto que, embora presos e escravizados, sentimo-nos muito sabidos e ousados. Esta mentalidade injeta um tão estranho veneno nas pessoas que estas passam a detestar a única coisa que as distingue dos irracionais: o desejo de buscar o sentido de sua vida. Ora, filosofar é não abrir mão de procurar o sentido da vida individual, da vida social e da cultura. Poderíamos dizer que a filosofia é a procura da face verdadeira do homem (...) É fixando o olhar e a inteligência nas alegrias e sofrimentos dos seres humanos, observando e refletindo sobre os fatos e os sentimentos do homem, que se constrói um edifício filosófico.
Acusam o projeto filosófico de ser muito pretensioso. E nisto têm razão, pois a filosofia não pode querer pouco. Sua pretensão não é a de ter status, riqueza ou de patrocinar exibicionismos. Aquele que pensa não quer é ser manipulado por fama, riqueza ou exibicionismo. Aquele ser pensante que não abdicou de pensar deseja é viver com sentido e por um projeto válido de vida. Desde uma modesta filosofia de vida até um sofisticado sistema filosófico, o que se pretende é buscar o sentido de tudo e evitar o embotamento humano.
Ao que tudo indica, a filosofia nada tem de inútil.

Questões para Reflexão
(Escolha 4 e responda)
        
1)                          “A filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”. Qual realidade se oculta por trás dessa expressão irônica?
2)                          Em que sentido podemos dizer que os regimes totalitários (ditaduras) costumam “caçar” e depois “cassar” os filósofos?
3)                          Qual costuma ser a postura da mídia em relação à filosofia?
4)                          De que maneira a filosofia pôde se aproveitar de seu status “marginalizado”?
5)                          Explique a expressão “nós nascemos para levar a vida, não para sermos levados por ela”.
6)                          De que maneira o sistema de produção capitalista e o modo de vida consumista interferem no pensamento humano?
7)                          Comente a expressão “a filosofia é a busca da verdadeira face do homem”.
8)                          Qual seria a “vantagem” do indivíduo que não abre mão de filosofar?
9)             Comente a frase: Ao que tudo indica, a filosofia nada tem de inútil.






[*] Doutor e Livre Docente em Filosofia da Educação (UNICAMP). Adaptado por Prof. Anderson Paiva, Filósofo e Mestre em Literatura e Cultura (USP). Texto original Revista Reflexão, abril de 1989, pp. 14-15.